THEATRE :

Rio Janeiro

GUERNIKA

di Fernando Arrabal

O Fernando Arrabal não é só o autor espanhol mais encenado no mundo.

Nacido no Marrocos espanhol 1932, Arrabal é um dos mais prolíficos artistas do seu tempo. Artista versátil e inquieto, inicia um movimento nos anos sessenta que se distingue outras tendências artísticas como o Surrealismo, o Teatro do Absurdo, o Dadaísmo. O Teatro Pânico, movimento cujos postulados merecem uma densa exposição, foi fundado em Paris em parceria com Jodorowsky e Topor compartilha características em comum com os movimentos mencionados, mais tem como traço fundamental uma irrestrita apertura a qualquer possibilidade da criação artística.



A peça „Guernica" data de uma etapa anterior ao Teatro Pânico, e mesmo que aparente ser uma ilha disconexa na produção artística do Arrabal; nela podemos encontrar reminiscências dos trabalhos anteriores, e um prenúncio de elementos que se desenvolverão posteriormente.



Inspirado num fato histórico: o bombardeio sobre a cidade Basca de Guernica em 26 de abril de 1937 que fora executado com a única finalidade de testar equipamento bélico a ser utilizado pouco depois na Segunda Guerra Mundial pelas forças nazistas; a peça também estabelece uma relação dialógica com o quadro de Picasso do mesmo título tanto no tema quanto nos princípios cubistas que podemos encontrar na sua estrutura e composição dramática.



O texto tematiza o horror da guerra e expõe diversas posições perante o fato. Porém, o texto não se limita à reconstrução, dramatização ou descrição deste: ele trascende à anecdóta para se constituir como um ejercício dramaturgico que tem características em comum com as técnicas de collagem e montagem tiradas das artes plásticas.



Um pesadelo de morte que se instaura no palco num tempo e espaço fragmentados, serve de contraponto a cenas de profundo lirismo dentro de situações absurdas e infantis.



As personagens todas estão à procura de algo. É essa procura o que permite que existam e se mantenham como personagens. Isto se dá em distintos planos que sutil, ou melhor, ambiguamente se diferenciam ou misturam entre si. Os planos que se superpõem no espaço cênico instauram nele uma co-existência de tempos e espaços. A ação se passa em diferentes tempos e espaços sem que isso seja evidenciado nas rubricas: na casa de Fanchu e Lira, destruída (ou em processo de destruição), irrompem personagens em outros espaços, em outros tempos ou em outros espaços e tempos sem procurar uma definição nos limites destes. Esta sutileza procura chamar a atenção não tanto para a composição dos elementos e sim para a sensação de extranhamento que a co-existência de planos produz.



O expediente da repetição utilizado na peça no que diz respeito às falas, cenas, e contracenações; estabelece um mecanismo que faz acena avançar numa aparente estaticidade, e que pode ser descrito graficamente com uma linha que nem é reta nem fecha um círculo percorrido ad-infinitum, mas que forma um espiral: volta-se para o ponto de partida mais num outro nível. Nem se afirma nem se nega pois tudo é possível: eis uma das procuras do Teatro Pânico, um continente capaz de guardas posições antagônicas sem cair na negação, cancelamento ou contradição.



Por outro lado, o relacionamento entre as personagens principais está cheio de simplicidade e densidade ao mesmo tempo. O casal de velhinhos é defendido por eles próprios com heróica e decidida atitude de resistência. A repetição novamente, esta vez de de atitudes, falas e situações, faz com que a quotidianeidade se constitua em reduto onde se atrincherar durante o bombardeio. Essa fé na resistência confere às situações seqüenciais do casal um componente quase que místico, e uma capacidade para gerar humor sem que isso precise ser uma decisão das personagens. O quotidiano adquire uma dimensão ritual que empurra o casal no sentido da trascendência. É neste ritual que os dois seres se fundem a um nível inatingível, e é nisto que encontramos uma luz de esperança sem cair em obviedade, e sem cair em julgamento de nenhuma índole. Quere-se atingir o espectador como uma totalidade enviando mensagens a sua sensibilidade, intelectualidade, sensorialidade, ao seu senso moral, religioso, estético. Procura-se uma espécie de encontro total. Uma experiência.
Formado integramente por UNI RIO, o elenco começou o processo de montagem em Abril de 2002. Durante esse tempo trabalhou em permanente diálogo com a equipe da teoria e da concepção plástica do espetáculo, o que possibilitou um fluente intercambio de experiências e informação, e enriqueceu o trabalho criativo de todos.

Todos os membros do projeto Guernika estamos conseguindo provar que, num tempo em que o individualismo parecera ser a característica principal de todo esforço; as parcerias ainda funcionam e dão certo.

Respeito e lealdade, antigos, mas úteis.

Para mim é uma honra poder trabalhar com esse material humano e coordenar os seus esforços. Afinal, somos um Teme que está sempre se afinando, aprendendo junto e crescendo mediante a análise a reflexão, o diálogo e a ação.